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Você me Dá Sorte


Sandro chegou ao trabalho eufórico, na segunda-feira de manhã. Ele iria com a esposa e as duas filhas para os Estados Unidos, assistir os jogos do Brasil na Copa do Mundo de 1994. Até aí, nada demais. Exceto pelo fato de que eles estavam viajando por terem sido sorteados em uma promoção no posto de combustível onde abasteciam. Você dirá: sim, é mesmo muita sorte, mas alguém tinha que vencer, não é? É. Só que o prêmio era a viagem para o ganhador com direito a UM acompanhante. Unzinho só! Como iriam os quatro? Simples: os dois ganharam!! Ele e a esposa abasteceram em dias diferentes e preencheram os cupons. Ainda acha que não foi nada demais?
Álvaro já está proibido de participar de sorteios nas festinhas do trabalho. Não importa o prêmio. De calcinha a computador, passando por livros, perfumes, bebidas, calculadoras e telefones celulares: se o rapaz se inscreve, invariavelmente ganha. Já o chamam de Gastão, por causa da personagem da Disney.
Queria ser assim, embora não possa me dizer azarada. Dei sorte no amor, na profissão e na família em que nasci. Verdade. Não trocaria a fé e o bom humor do papai, o estresse superzeloso da mamãe e mesmo o escracho sempre moleque dos meus irmãos por prêmio de loteria nenhum neste mundo. Dei sorte nas amizades que cultivo, em alguns talentos que busco desenvolver, nas minhas filhotas caninas e até na sogra que tenho, que é um doce de pessoa.
Dou sorte em estacionamentos, mas não com semáforos ou filas. Para essas, o que me vale, quase sempre, é a Lei de Murphy.
Dei azar na construtora que eu e o marido escolhemos para erigir nosso lar e que quebrou no meio da obra por incompetência do dono. Aliás, costumo dar azar nos negócios. Obras são embargadas, empresas abrem falência ou fábricas de móveis são alagadas pelas chuvas torrenciais de janeiro na Capital Federal, carros pegam fogo ou fundem o motor... Já conheço alguns funcionários do PROCON pelo nome.
Também não ganho rifas ou sorteios. Minto. Ganhei uma vez, mas foi até ridículo. Eu e o marido assistíamos a um festival de Curtas Gaúchos e ao final, sortearam duas caixas de vinho, quarenta e oito garrafas ao todo. Havia umas trinta pessoas no cinema. Matemática simples: se, ao invés de sortearem, tivessem simplesmente distribuídos as garrafas, nós teríamos saído com duas, pelo menos. Pois nós dois ganhamos a penúltima delas. Houve gente que ganhou quatro ou cinco. Despeitada, como a raposa de Esopo resmunguei, entre dentes:
- Não gosto de vinho, mesmo...
Também fui sorteada uma vez para ganhar uma raqueteira na festa de premiação de um torneio de tênis, do qual participei. Sortuda, né? Que nada. Tive que trabalhar e não pude comparecer ao evento. O prêmio foi sorteado para outro.
Com tanto pé frio, entrar em bolão é reduzir as chances do grupo todo. Porém, ficar de fora é certeza de que os outros vão ganhar e eu vou ficar na lama sozinha, prefiro azarar a sorte alheia. Pra equilibrar, sempre dou um jeitinho de carregar junto comigo o Álvaro e o Sandro. Acho que a companhia tem feito bem para a minha sorte… Dia desses, num evento profissional, o marido ganhou um notebook. Como nós dois já temos lap top, adquirido à prestação há pouquíssimo tempo - que sorte, né? -, resolvemos vendê-lo e comprar uma TV de LCD.
Na mesma semana meu carro quebrou, a máquina de lavar idem e, ao instalarmos as câmeras do nosso circuito de segurança, descobrimos várias com defeito, além da placa de vídeo do micro de monitoramento. E a TV de LCD vai ficar para depois.
Preciso convidar o Álvaro e o Sandro para sair conosco mais vezes...
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 29/05/2008
Alterado em 13/11/2010


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