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A Diferença

 
Tarde da noite, Ezequiel permanecia no escritório. Os números não batiam e a diferença nas contas seguia inexplicável. Isto é, havia uma explicação: alguém desviava dinheiro e isso já se arrastava há algumas semanas.
Mas, quem? Somente Albano, o dono da empresa possuía acesso à conta e não fazia muito sentido que ele estivesse roubando a si mesmo. E, o mais intrigante: eram sempre pequenas somas, ridículas, o que o desencorajava de confrontar o patrão e o mantinha ali, escravizado, à procura de algum erro de arredondamento do sistema ou de lançamento.
Enquanto o rapaz fazia e refazia cálculos, Albano aproveitava sua ausência junto à senhora Ezequiel. Um tanto insegura, foi fácil convencer à belíssima morena de que o marido inventava as tais horas extras para encontrar-se com outra e, mais ainda, de que ele merecia uma vingança à altura.
Seu plano corria maravilhosamente bem, até que a mulher percebeu que uma vingança desse calibre só tem efeito ao atingir o alvo. No sábado de madrugada, quando o homem retornava de mais um serão, cansado e frustrado com o mistério em sua contabilidade, despejou-lhe na cara tudo o que estava acontecendo. Acusou-o de traição e, sem lhe dar qualquer chance de defesa, esfregou-lhe na cara a sua também condição de corno.
Ezequiel, aturdido, balbuciava:
- Eu... não... nunca... Você?? Com quem?
E ela, mais do que depressa, entregou-lhe o nome do santo.
Na mesma hora, Ezequiel entendeu tudo. As diferenças eram deliberadamente provocadas pelo patrão, para obrigá-lo às jornadas extraordinárias!
Livre daquele peso que o subjugava há tanto tempo, o homem sorriu largo, deixou a mulher falando sozinha e foi para o quarto. Depois trataria de tudo.
Agora, só queria dormir, na paz de saber que horas extras, nunca mais!




Este texto faz parte do Exercício Criativo - Fazendo Serão
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Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 02/04/2012


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