Textos



Pesares Mais Leves

 
Nesta vida os prazeres são por quilos
e os pesares por arrobas.
Adágio popular
 

Semana passada, perdi um de meus cães. Foi de repente. Era um cão jovem, saudável, mas, glutão, engoliu várias mangas com caroço. Um deles lhe perfurou o intestino e, apesar de operado às pressas, não resistiu.
Era um grandalhão estabanado, vivia me machucando e, há cerca de três meses, após uma briga com um outro cachorro do grupo, vi-me obrigada a manter os dois separados, o que é sempre um grande incômodo para quem tem - ou tinha - dezessete cães e pouco tempo para estar com eles. Então, pode se supor que sua partida facilitou minha vida. É verdade. Também a entristeceu. Ele era um bobão saltitante, sempre feliz, muito carinhoso, carente, divertido. Sinto falta dele.
Coincidência ou não, foi há exatamente uma semana deste Dia de Finados, data tão significativa para nós..
A morte de um ser amado nunca é fácil para os que ficam. Sentimos falta, saudades e, muitas vezes, culpa por nossas palavras, atos e omissões.
Desde que me envolvi com proteção animal, já perdi cães de diversas formas: por eutanásia, durante internação, sozinho no quintal ou aconchegado em meus braços até o último suspiro… Todas dificílimas, dolorosas. Mas, em todas, tive o consolo de ter dado o meu melhor por eles, ter buscado ajuda veterinária de qualidade quando necessário, ter dado atenção, carinho e o maior conforto possível nos seus últimos momentos. Essa certeza atenua a dor da perda, limitando o luto ao seu tamanho mais real.
E isso não vale só para bichos de estimação. Vale para gente, também.
E vale para a gente também. Temos que estar preparados para a nossa própria morte, sabendo que deixaremos bem os nossos amados, que tornaremos suave a sua dor. Saber que dirão de nós o quanto soubemos aproveitar a vida, não como se cada dia fosse o último porque ninguém tem energia para tanto, mas buscando fazer o nosso melhor, dar o nosso melhor e receber da melhor forma possível tudo o que nos foi entregue.
O tempo ajuda a esmaecer a melancolia provocada pela ausência. Mas, não há nada pior do que a piedade ou o remorso eternos, já que a morte impede qualquer possibilidade de remissão.

 
Texto publicado em minha coluna de hoje do Jornal Alô Brasília e também, do Jornal de Caruaru.
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 04/11/2016


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