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Um Dia, Eu Acordei Mulher



Um dia, eu acordei mulher
E percebi que era diferente dos meus irmãos
Que era a queridinha do papai
E ganhava bonecas no natal
Que faziam companhia às bonecas de natais passados
Enquanto os carrinhos e bolas se acabavam em um mês
Eu usava vestidinhos e laçarotes
Enquanto eles desfilavam aos molambos

Mas um dia, eu acordei mulher
E percebi que a diferença era maior que os mimos
E que eles podiam o que eu não podia
E que de mim se esperava pouco
Ser esposa, ser mãe, sombra servil
Enquanto, a eles um mundo de expectativas

E quando eu acordei mulher,
Percebi que meu corpo era dado a fases
E que em alguns dias do mês ele sangraria
E que eu teria os olhos igualmente alagados
Por um drama real ou pieguice banal
E que esse corpo poderia deformar-se
Para gerar em mim uma nova vida
E que esse corpo seria capaz
De essa vida alimentar

Neste dia, em que acordei mulher
Senti que cada paixão era voraz
E a cada paixão me entregava pra sempre
E a cada entrega a alma doía fundo
Mas se recompunha para novamente se apaixonar
Então percebi que ser mulher também é ser forte
É ser guerreira, é lutar em dobro por cada conquista
É vibrar em dobro com cada vitória
E nas derrotas, desabar em pranto,
Pra depois, lavar o rosto
Passar um batom, subir num salto alto
E retomar a batalha

E, desde esse dia, em que acordei mulher
Eu já venci muito, já perdi também
E percebi que posso ser
Esposa, mãe, amante
Estudante, atleta
Profissional, amadora
Artista, religiosa
Egoísta, caridosa
Comportada, poderosa,
Sutil, extravagante,
Apaixonada, apaixonante
E tudo o mais o que eu desejar

Porque, um dia, eu acordei mulher

Imagem daqui.

Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 01/04/2008
Alterado em 31/08/2010


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